15 de junho de 2007

Três décadas sem Clarice



Em 30 anos de ausência, completados este ano, talvez um episódio que defina a escritora Clarice Lispector seja justamente o que aconteceu quando foi convidada para palestrar no Congresso Mundial de Bruxaria, Bogotá, 1975. Perplexa, Clarice falaria, depois, que não sabia exatamente o que motivou os organizadores a fazerem tal convite a ela. Não sabia o que fazer. Sacou da manga o conto “O Ovo e a Galinha” e o leu, em português, para a platéia. Foi a personalidade mais comentada do evento. Clarice era assim e, como sua obra, exalava mistério, sabia como falar das coisas humanas. Era uma escritora que se especializou em atingir os porões de seus personagens e, por conseqüência, também o íntimo de seus leitores, cutucando, revirando e contemplando emaranhados mecanismos psicológicos.

Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, numa aldeia de nome complicado: Tchetchenillk, no ano de 1920. Os Lispector emigraram para o Brasil no ano seguinte e Clarice nunca mais voltou à pequena aldeia. Fixaram-se em Recife, onde a escritora passou a infância. Clarice tinha 12 anos e já era órfã de mãe quando a família mudou-se para o Rio de Janeiro.



Entre muitas leituras, ingressou no curso de direito, formou-se e começou a colaborar em jornais cariocas. Casou-se com um colega de faculdade em 1943, o diplomata Maury Gurgel Valente. No ano seguinte publicava sua primeira obra: “Perto do coração selvagem”. A moça de 19 anos assistiu à perplexidade nos leitores e na crítica: quem era aquela jovem que escrevia “tão diferente?”



Seguindo o marido, diplomata de carreira, viveu fora do Brasil por 15 anos e dedicava-se exclusivamente a escrever. Separada do marido e de volta ao Brasil, passou a morar no Rio de Janeiro.



Em novembro de 1977 soube que sofria de câncer generalizado. No mês seguinte, na véspera de seu aniversário, morria em plena atividade literária e gozando do prestígio de ser uma das mais importantes vozes da literatura brasileira.