13 de dezembro de 2005

Outra visão

Boa Vista - Em Roraima acontecem coisas que só mesmo as cabeças mais pensantes explicam. Inversões de valores, quebras de regras (nem todas importantes ou fundamentais) e a prática de uma forma de lavagem na mente das pessoas que, muitas vezes, as deixam sem condições psicológicas para analisar com insenção determinados fatos.

Para exemplificar o que escrevo vou dar dois exemplos de acontecimentos ocorridos e bem divulgados pela mídia local. O primeiro aconteceu há alguns meses, quando agentes da Polícia Civil resolveram acabar com uma rinha de galos numa fazenda nas proximidades de Boa Vista e prender aqueles que cometiam o crime. Os policiais chegaram, deram o flagrante e quase foram colocados dentro da rinha para serem linxados pelos participantes da brincadeira de mau gosto, onde quem sofre são os animais. Os agentes foram ameaçados e tiveram que tomar atitude dura para conter a revolta dos "membros da sociedade roraimense".

Para surpresa geral, no dia seguinte alguns veículos de comunicação colocaram os criminosos como vítimas e os policiais como agressores. A desculpa foi uma só: todos os que participavam da rinha pertenciam a famílias tradicionais e tinham total direito de fazer o que bem entendem, sem se preocupar com a lei que deve servir para todos sem distinção. O segundo exemplo é o assunto da moda em Boa Vista. Meia dúzia de políticos e grandes latifúndios esperneiam, reclamam e protestam porque o Incra está fazendo o que deveria ter sido feito há muito tempo. Pessoas que não tiveram condições de manter seus lotes (por culpa do próprio Incra) e outros que agiram de má fé, resolveram vender suas terras sem respaldo legal, porque fazia parte de um programa de reforma agrária voltado para famílias comprovadamente carentes. Resultado: a justiça tarda mais não falha. Aqueles que compraram os lotes estão sofrendo ações na Justiça pelo simples fato de terem agido de forma contrária a Lei.

Mais uma vez a mídia local sai em defesa de poucas pessoas em detrimento das milhares que continuam penando para manter suas famílias, sem apoio político e de políticos. Sem apoio do Incra, do governo, seja qual for, e da imprensa. Não é comum os jornais ou telejornais mostrarem matérias dizendo que há atrasos no pagamento de benefícios para aqueles que resolveram enfrentar o mato, os insetos e as doenças que são naturais dessas regiões. Enfim, é duro ver e engolir a elite soberana manipular fatos, criticar o certo e transformar o erro em acerto. Mas mudança pode estar bem perto de nós. Esse é um exemplo.