8 de dezembro de 2005

25 anos depois

Boa Vista - Tudo estava pronto para uma viagem a Minas Gerais, dois anos depois da última. O dia era 8 de dezembro. A passagem de ônibus estava marcada para o dia seguinte. Fui para a casa da minha irmã naquela noite para gravar algumas fitas cassetes com músicas de Pink Floyd, Led Zeppelin, Neil Young, Deep Purple, Janis Joplin, Jimi Hendrix e, claro, Beatles, Jonh Lennon e George Harrison.

No início da noite fumei um e em seguida me deparei com aquele gradiente possante. Fiz a seleção, peguei umas fitas virgens e me preparei para escolher a trilha sonora da viagem. Estava empolgado com o cabeça de nego que conseguira. Já estava viajando. O som rolava no aparelho, enquanto a mana, o cunhado e a sobrinha dormiam. Não me lembro o nome do bairro. Acho que era jardim Campina. Era uma casa espaçosa, quintal grande com algumas plantas. Nada de anormal para a zona extremo Sul de Sampa.

A empolgação batia. Depois de dois anos iria voltar à terra natal. As lembranças eram vagas, mas só a idéia de passar 12 horas viajando, ouvindo músicas, escrevendo e percebendo as paisagens era demais. Saí da sala, fumei outro e voltei. Liguei o som e pensei que deveria ter na trilha Paul Simon e Art Garfunkel. Escolhi as músicas, preparei a fita e iniciei a gravação. Pô, que chato, estou relatando o que aconteceu há 25 anos. Não importa. É a primeira vez que escrevo. Naquele tempo walkman era, diríamos, novidade. Pensei na saída de São Paulo, congestionamento, via Dutra e movimento. Darling, please don't never break my heart. Engraçado, é um trecho da música que toca na TV. Lennon regravou. É agora, momento atual, não importa mais. Para começar gravei Cecilia, em seguida The Boxer, Bridge Over Trouble Water, The Sound of Silence, America, Hey, Hey, my my, rock"in"roll...never die.

Olhei para o Revolver, emplaquei Tax Man. Queria ir de taxi até a rodoviária. Eleonor Rigby chama a atenção. Sons experimentais, viagens, emoção. Peguei Sargent Peppers e não sabia o quê escolher. Every body is got something to hide except for me and my monkey. Quanta coisa boa no Branco. God, oh meu Deus. Só tenho três fitas. Imagine se pudesse mais? Não havia fronteiras para meu gosto musical. Mutantes, O Terço, Walter Franco, enfim, muito mais. What is life, If not for you, My sweet lord, com uma pequena ajuda dos amigos, como? Machine Head, Whola lotta love, Starway to heaven, Eric Clapton e Jeff Beck, Prisma, Smoke on the water.

Nossa como gravar tudo em três fitas? O tempo passou e as fitas acabaram-se. Guardei os discos, liguei o rádio e para minha surpresa, She loves you. Logo depois Help, Yesterday, Don't let me down, The ballad of John and Yoko, Imagine, Starting Over, Beautifull boy, A day in the life, God. Olhei para o relógio acima da TV e pensei: será que vou acordar às 7 horas? Aumentei o volume do som e ouvi Yer Blues. Não acreditei. Mudei a sintonia e ouvi Woman. Lennon acabara de lançar Double Fantasy. Passei a madrugada ligado no rádio, ligado. Estranhei todas as emissoras tocar Beatles e Lennon ao mesmo tempo. Mais uma vez não importa, é bom! A música parou. Um locutor com voz fúnebre narrou: "era 22 e 48 em Nova York quando Mark David Chapman, em frente ao edifício Dakota, disparou cinco tiros no ex-beatle Jonh Lennon que morreu minutos depois no hospital Roosevelt. É com tristeza que anuncio. Lennon foi assassinado na noite passada em Nova York." O resto...pra quê?