10 de agosto de 2010

6 de julho de 2010

Jornalismo não supõe. Registra. Não adivinha. Descobre. Não julga antecipadamente. Observa. Não é a palmatória do mundo. É sua biografia.

30 de junho de 2010

Estive numa convenção multipartidária. Vi correligionários com vuvuzelas e discursos moralizantes sobre um palco tão lotado quanto a platéia. Em certo momento, um dos candidatos diz que o voto dos analfabetos foi uma conquista democrática e resolvo sair. Enquanto isso, do alto do telhado, um banner de Chico das Verduras anunciava que ele seria candidato na COVENÇÃO 2010. Emblemático

Há uma grande esquizofrenia política ocorrendo em meu Estado. Ou seja, nada de novo.
Enquanto Carol Anne é sequestrada pelos fantasmas indígenas de Poltergeist, o mais sinistro dos faxineiros aterroriza funcionários do hospital de Scrubs. Televisão rules. Desde que paga.

29 de abril de 2010

Livro Eletrônico: alerta escritores

Escrito por Ademir Assunção*

Saiu matéria na Folha de São Paulo sobre o livro eletrônico, que começa a entrar no mercado editorial brasileiro. O texto diz que os livros nacionais ainda são pouquíssimos no formato eletrônico. Por quê? Eis o trecho que mais interessa a nós, escritores: “O livreiro é um dos que defendem que o maior nó no mercado é a rediscussão dos direitos autorais. ‘O medo está aí. Isso vai inundar o Judiciário’”. O livreiro é Pedro Herz, dono da rede de livrarias Cultura. (grifo meu).

Nem todo mundo sabe, mas os autores ganham apenas 10% do preço de capa de cada livro vendido. 10%. Os outros 90% ficam com editoras, distribuidoras e livreiros. 10% é o padrão. Mas há editoras que chegam a pagar 3%. Quando falo isso para leitores que não fazem a menor idéia como funciona a remuneração de direitos autorais no Brasil, muitos ficam espantados, outros indignados.

A entrada do livro eletrônico é uma ótima oportunidade para os autores rediscutirem seus direitos autorais. Ouçam bem: é uma ótima oportunidade. As grandes livrarias já estão pressionando as editoras para venderem livros de seus autores em formato eletrônico. As editoras já estão procurando os autores para assinarem adendo aos contratos autorizando a venda em formato eletrônico.

Conversei com um advogado especialista em direito autoral essa semana. O livro eletrônico foi um dos temas da conversa. Perguntei a ele o que os autores devem fazer em relação às autorizações para comercialização do livro eletrônico. Ele foi claro e taxativo: “Enquanto não redefinirem a remuneração dos direitos autorais, não assinem. O livro eletrônico não tem custos que justifiquem manter os direitos autorais em apenas 10%”.

A matéria da Folha diz que os representantes de cada setor da cadeia produtiva do mercado editorial já estão discutindo a questão. Eu pergunto: quem representa os escritores nessas discussões? A Academia Brasileira de Letras? A União Brasileira dos Escritores? Algum escritor foi procurado para se manifestar?

O advento do livro eletrônico vai provocar grandes mudanças no mercado editorial. Entre outras coisas, vai diminuir os custos de produção dos livros e também os custos de venda pelas livrarias. Tanto escritores, quanto editores, podem fazer vendas diretas em seus sites, a custos quase zero. Essa é uma boa alternativa caso não haja acordo justo em relação ao pagamento de direitos autorais. A pressão vai ser comercial. Em resumo: há todas as condições para o preço do livro diminuir bastante (vantagem para os leitores) e o pagamento de direitos autorais subir bastante (vantagem histórica para os escritores).

Por isso, está dado o alerta: escritores em geral: não sejamos bobos. Não assinemos nenhum contrato enquanto não houver uma discussão aberta sobre direitos autorais de livro eletrônico e um acordo justo. Não caiam na balela de que estamos nos tempos de “quebra de autoria, compartilhamento de informações”, argumento que está sendo utilizado por alguns comerciantes de livros. Eles não vão “compartilhar” nossos livros. Eles vão vendê-los.

Alguns editores já compreenderam a necessidade dessa discussão com seus autores. Já perceberam que se marcarem touca vão beirar a falência, como aconteceu com as gravadoras. São poucos. E provavelmente vão tentar acordos individuais com os autores.

Eu vejo a grande oportunidade de tomarmos uma decisão coletiva. Uma decisão dessa forma vem com muito mais força. Podemos fechar um acordo que beneficie a todos. É uma oportunidade única.

É uma oportunidade única para os editores e livreiros também mostrarem que se preocupam de fato com os autores, que os vêem de fato como “parceiros” (termo da moda).

Alguém aí já se deu conta que na “cadeia produtiva do livro” (outro termo em moda), o único que não é profissional (no sentido de viver do seu trabalho) é o escritor? O livreiro é, o distribuidor é, o editor é, o gráfico é, o balconista da livraria é. Menos aquele que produz a matéria-prima para o trabalho de todos os outros da tal “cadeia produtiva”.

Pensem bem nisso. Caso não haja acordo justo, nada impede que num futuro muito próximo os próprios autores se organizem, criem uma editora virtual, e vendam seus livros diretamente, ganhando 80, 90% de direitos autorais.

Peço aos que entenderam o que diz esse texto que se manifestem. Que passem adiante. Que republiquem em seus blogues. Que discutam nos bares (não é assunto “chato”, não. Diz respeito ao nosso trabalho). Que ampliem essa discussão e pensem formas de partirmos pra ação.

É a hora.

*Ademir Assunção é poeta e jornalista, membro do Colegiado Nacional da Literatura, Livro e Leitura e integrante do Movimento Literatura Urgente

Publicado no blogue espelunca: http://zonabranca.blog.uol.com.br/

25 de fevereiro de 2010

Viva Zapata, diz o DEM

Boa Vista - Orlando Zapata, o dissidente cubano que morreu em greve de fome, era totalmente desconhecido pela mídia e pela direita brasileira. Agora que começou a campanha eleitoral, virou herói de falsos sentimentos humanitários.

Será que o DEM e os tucanos faziam campanha silenciosa em favor dos direitos humanos, defendiam dissidentes do anacrônico regime fidelista e a gente não sabia?

Hang your public relations, fellows.

23 de fevereiro de 2010

A lacuna sociológica

Boa Vista - Alguns cursos de jornalismo são demasiado técnicos, embora os estudantes achem que há pouca prática. A prática é simples e se aprende com poucas lições. O mercado de trabalho é pura prática. O que falta é práxis. Reflexão sobre o trabalho que se faz.

Muita gente considera o jornalismo repleto de violência e futilidade, mas ainda é uma das atividades mais nobres. O jornalismo leva informação, liberdade e história a todas as culturas.

Graças a nós os historiadores do futuro terão emprego. Somos os historiadores do presente, não é pouca responsabilidade. Portanto, é preciso conhecer as culturas humanas, respeitar a diversidade de povos e ideologias, mas principalmente respeitar o ser humano. E isso, o jornalismo atual (por exigência do público) não está fazendo como se espera.

20 de fevereiro de 2010

O cinema de Karim Aïnouz

Belo Horizonte - Na época em que me preparava para defender o projeto de final de curso, um documentário, fruto de 18 meses de trabalho árduo, leituras incessantes e descobertas saborosas. Em uma de minhas conversas com a orientadora, construímos o que seria a última questão que me tiraria o sono durante o restante da graduação: na atual sociedade, somos tomados por uma enxurrada de imagens, talvez não fosse a hora de olhar para todos esses signos com menos preconceito? E mais, não seria a hora de começarmos a pensar em como inserir mais imagens – com qualidade – nesse universo? Isso deu muito pano para manga e anotações para o dr. maluco.
alguns anos se passaram... e num é que trabalhando na 13ª Mostra de Cinema de Tiradentes 2010, não me deparei mais uma vez com a velha questão? E o que me consola, é que dessa vez o assunto pairou no discurso do homenageado do festival, o cineasta Karim Aïnouz - o cara é cearense e rodou Madame Satã, O Céu de Suely, Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo, entre tantos outros. Confira (a qualidade do vídeo não das melhores... mas o áudio está bom):




o fato da mostra ter escolhido Aïnouz como homenageado também é assunto cheio, mas isso fica para a próxima.

15 de fevereiro de 2010

Supremo abre ação penal contra deputado Francisco Rodrigues (DEM-RR)

Boa Vista - A notícia está completa no site do STF.

O deputado será julgado pela acusação de ter beneficiado a si próprio e familiares seus com o direcionamento de R$ 1 milhão de recursos federais, obtidos mediante aprovação de emenda de sua autoria ao Orçamento Geral da União (OGU), destinado à implantação da cultura do café no município de São Luiz do Anauá, em Roraima.

R$ 1 milhão à empresa de irmão

Com a aprovação da emenda, teria sido celebrado contrato, sem observância das regras previstas na Lei de Licitações (Lei 8666/93), sendo que os recursos teriam sido repassados quase integralmente (R$ 999.994,60 de R$ 1 milhão), à empresa Art Tec, especializada em terraplanagem e construção civil e pertencente, à época do contrato (no ano 2000), ao irmão (ex-prefeito do município) e à cunhada do deputado, respectivamente Emanuel Andrade da Silva e Andréa Cristina Batista Andrade da Silva.

Da denúncia consta, ainda, que a Art Tec não realizou a maior parte dos serviços contratados – limpeza de área e preparo para o plantio de mudas de café – e ainda superfaturou o valor das mudas em 84%.

Além disso, rastreamento da movimentação em conta bancária da Art Tec na Caixa Econômica Federal (CEF) autorizada pelo relator do Inquérito 2250, ministro Joaquim Barbosa, teria mostrado que, em duas datas de repasse de recursos do mencionado contrato pela prefeitura de Anauá à Art Tec, essa empresa teria depositado valores (R$ 56 mil e R$ 22 mil) em conta conjunta do deputado com um filho.

Veja mais no site do STF.

14 de fevereiro de 2010

Carnaval

Boa Vista - Intelectuais não apreciam carnaval porque racionalizam tudo.
Acadêmicos não apreciam carnaval porque não é explicável pela ciência.
Roqueiros não apreciam carnaval porque as músicas não oferecem som e fúria.
Budistas não apreciam carnaval porque lhes afasta do Nirvana.
Plantonistas de hospital e paramédicos não apreciam carnaval por causa da sobrecarga de trabalho.
Evangélicos não apreciam carnaval porque o consideram coisa maligna.
Há artistas que não apreciam carnaval porque o consideram uma bobagem alegre, alienação cultural, comércio do corpo e deturpação da alma.

De minha parte, concordo com todos.

11 de fevereiro de 2010

Sindicato repudia demissão no EM

Belo Horizonte - Enquanto isso... em um jornal mineiro....


O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais vem repudiar e manifestar sua estranheza quanto à demissão do jornalista Emmanuel Pinheiro, que exercia a função de repórter-fotográfico no jornal Estado de Minas.

Pinheiro foi demitido por justa causa sob alegação de falta grave por "ato de improbidade". Segundo ele, a empresa promoveu sua exclusão pelo fato de manifestar opinião em seu blog particular - www.pinheironafoto.blogspot.com - ao fazer comentários e análises comparativas sobre a edição fotográfica de vários veículos de comunicação impressa.

Entendemos que a atitude adotada pela direção do jornal caracteriza desrespeito à liberdade de expressão, já que o jornalista teve ferido seu direito à livre manifestação de expressão e opinião em espaço próprio - direito também defendido com bastante ênfase pelas entidades representativas do setor patronal de imprensa no país.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de MG manifesta sua solidariedade a Emmanuel Pinheiro e, desde já, coloca à sua disposição o seu Departamento Jurídico para que sejam preservados e reparados os seus direitos.

O presidente do SJPMG, Aloísio Morais, tentou contato com o diretor de redação do Estado de Minas, Josemar Jimenez, para ouvi-lo a respeito, mas não obteve retorno. Ao atender o celular às 15h14 minutos desta quarta-feira, 10/02, Josemar disse que encontrava-se em reunião e ficou de ligar dentro de "dois minutos", o que não ocorreu até a redação do texto final desta nota.


Belo Horizonte, 10 de fevereiro de 2010
Diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG)

19 de janeiro de 2010

Políticos e discursos

Boa Vista - Leio artigo de ghost-writer assinado pelo governador de Roraima e ainda me surpreendo com a capacidade inata de mentir dos políticos. Se assinam o que não escrevem, faz sentido descumprir o que prometem. Guiados pelo imaginário político, Roraima sedia uma espécie de Show de Truman, onde nada é real. Prometem pagar empréstimos milionários e melhorar saúde, estradas, educação (bocejo), como se Roraima tivesse construído, em 20 anos de existência, bases econômicas estáveis ou pelo menos uma mentalidade auto-sustentável para poder arrogar-se a algo mais que protetorado da União Federal. Vivemos uma pré-história do intelecto: somos enganados e agradecemos com sorrisos. Nenhum ex-governador é inocente.

Leia mais aqui.

3 de janeiro de 2010

Belo Horizonte - também... com a escola que ele teve. não poderíamos esperar muita coisa não.

15 de dezembro de 2009

Popular/impopular


Brasília - Sorry, Barack Obama, mas Lula é certamente a personalidade mais interesante do cenário internacional. A oratória e o domínio que tem sobre a platéia parece crescer a cada discurso, asim como os índices de popularidade que ostenta, maiores do que os do próprio governo.

O Ministro das Comunicaçãoes, Hélio Costa, que o diga. Falou antes de Lula e foi vaiado pela platéia, que o acusava de ligações intestinas com a Rede Globo - qual é a novidade?. Já durante a fala do presidente, a platéia interrompia seu discurso para dizer coisas como "O Brasil te ama, Lulinha".

Por isso é que bater em  Lula não dá certo. Se desse, gente como Diogo Mainardi mereceria algum respeito e venderia mais livros (?). O problema dos opositores de Lula é que sua resistência ao ex-sindicalista resvala no preconceito. Já vi acadêmicos e gente sem escola reclamar de sua baixa escolaridade, mas nada que se diga o torna menos popular e admirado.

Ágora

Brasília - Se Hemingway tivesse conhecido esta cidade, o título de "Paris é uma festa" teria sido diferente.

Nestes dias, Brasília é um centro de confraternização e um campo de batalha. Diversos encontros e conferências ocorrem por toda a cidade. O setor hoteleiro está lotado, o Sistema Único de Saúde faz programa de capacitação; manifestantes protestam contra politicos corruptos (o governador José Roberto Arruda é acusado de diversos crimes e o governador de Roraima, Anchieta Júnior, vai ser julgado aqui na quarta-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral); manifestantes protestam contra a falta de chamada em concurso público. Manifestantes protestam contra a desorganização da Conferência Nacional de Comunicação...

Enquanto isso, diante da Infraero e das Lojas Americanas, um cartaz pregado num poste informa: "Esta cidade é de Jesus".

A grande batalha da Conferência Nacional de Comunicação não será contra a inabilidade do Governo Federal em regular o setor ou contra a irresponsabilidade social da mída. O problema chama-se Telebrasil, a gigante criada com partes da Alcatel Lucent, Oi, Vivo, Claro, Tim, Acel, Abeprest e Brasil Telecom.

Durante as conferências estaduais, a Tele-Frankenstein abocanhou a maioria das vagas em diversos estados. Companheira do Tocantins informa que lá a fatia das teles foi expressiva, apesar da mobilização do setor empresarial local. Em Roraima, a Telebrasil ainda ficou com 40 por cento das vagas do setor empresarial.

A Telebrasil está disposta, como Galactus, a devorar tudo o que encontra pela frente. Além de fornecer serviços de telefonia fixa, móvel, internet discada e em banda larga, o monstro quer abocanhar generosas fatias da televisão por assinatura e fornecer serviços para o setor público. Os diversos contratos da Telefonica com o Governo de São Paulo que o digam.

Isso é perigoso. Os governos (principalmente o Federal) precisam ter sua própria plataforma de comunicações, para não depender do setor privado. Uma coisa é participar da mobilização mundial em favor do neo-liberalismo travestido de responsabilidade social. Outra é cometer este suicídio logístico e de segurança.

Precisamos fazer aqui, no Centro de Convenções Ullysses Guimarães, uma composição que envolva os três setotes (público, civil e empresarial) contra o monstro que se anuncia.

5 de novembro de 2009

UnoAmérica divulga carta aberta contra o ingresso de Chávez no Mercosul


Carta aberta da UnoAmérica contra o ingresso de Chávez no Mercosul (II)

Ao Senado Federal

Em decisão favorável ao ingresso da Venezuela no Mercosul, contra o parecer do Senador Tasso Jereissati (PSDB) e em detrimento da “cláusula democrática” dessa União aduaneira, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), do Senado Federal, deixou caminho aberto para a expansão do socialismo do séc. XXI de Hugo Chávez aos países membros. A presença do Prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, em audiência pública na CRE, defendendo o ingresso de seu país ao bloco, acabou facilitando a aprovação do protocolo de adesão, não obstante seja Ledezma um dos principais opositores a Chávez e tenha denunciado a ditadura existente na Venezuela (ouça-se a exposição de Ledezma na Rádio Senado: http://www.senado.gov.br/radio/pro_visao.asp#proximo).
Desse modo, em obediência às normas que regem o Mercosul, não pode prosperar a decisão da CRE que acatou e deixou-se influenciar pelos argumentos de Ledezma, pois a Venezuela caminha a passos largos para tornar-se uma ditadura comunista a exemplo de Cuba. Ledezma, como é fato notório, é um homem acossado pelo regime ditatorial de Hugo Chávez, razão pela qual seus critérios não são críveis nessa situação, nem podem ser levados em consideração em decisão de tal magnitude, conforme denunciou (anteriormente à audiência pública) a carta aberta da UnoAmérica de 13 de outubro último: v. http://www.dcomercio.com.br/Materia.aspx?id=29720.
Pede-se, ademais, ao Senado Federal, sejam considerados fatos da mais alta relevância ocorridos no dia da aprovação do ingresso da Venezuela no Mercosul pela CRE (dia 29 último)): 11 (onze) funcionários da Prefeitura de Caracas, vítimas de prisões arbitrárias (desde 26 de agosto de 2009) e da implacável perseguição de Hugo Chávez a Ledezma, foram soltos e recepcionados por Ledezma imediatamente após e no mesmo dia da decisão da CRE, que beneficiou o presidente venezuelano, tudo indicando haver correlação entre os fatos (v. http://www.noticierodigital.com/?p=58155). Portanto, ao tomar conhecimento desse episódio, cuja existência ou mesmo dúvida poderá ter viciado todo o processo de decisão da adesão da Venezuela ao Mercosul, espera-se que o Senado Federal proceda às providências necessárias para esclarecê-los, a fim de que seja adiada a votação em Plenário e, ao final, se confirmados os acontecimentos, seja rejeitado o ingresso da Venezuela no Mercosul, pois não se pode aceitar uma possível intervenção ilícita de Hugo Chávez no processo de decisão do Senado brasileiro, no caso da votação do protocolo de adesão.
Veja-se a esse respeito a análise de Graça Salgueiro no artigo "O preço do resgate: passaporte para o Mercosul", publicado no site do analista político Heitor De Paola, ambos Delegados da UnoAmérica:http://www.heitordepaola.com/publicacoes_materia.asp?id_artigo=1376.

São Paulo, 02 de novembro de 2009

Marcelo Cypriano Motta
Delegado da UnoAmérica no Estado de São Paulo
Delegado do Grupo 11 (Venezuela) no Brasil
Membro do Conselho Cívico e Cultural da Associação Comercial de São Paulo
Filiado ao Democratas (DEM)

26 de outubro de 2009

Maitê Proença irrita portugueses

Republicamos aqui um post do jornalista Antunes Ferreira sobre como o "jeitinho" brasileiro pode ser ofensivo:


O mal e a caramunha

Esta semana que hoje termina foi dominada pelo caso Maitê Proença. O assunto, de tão divulgado, comentado e criticado, é do conhecimento generalizado. Mesmo assim, aqui o resumo. A «senhora», que já por várias vezes este por cá – para representar em palco e promover os livros de sua autoria, ou seja, para aumentar a sua conta bancária com a colaboração dos Portugueses – tinha feito um vídeo sobre o nosso País em que escarnecia dos Tugas, ou seja, nos insultava com a gozação, e que passara na TV Globo já em 2007, mais precisamente no programa «Saia Justa».

Mas, ainda que com um belo atraso, o episódio chegou aqui. Um chorrilho de asneiras, umas atrás das outras que culminavam com a «distinta» actriz a cuspir na água da fonte existente nos Jerónimos. Coisa pouca, por conseguinte. Sabem-no todos: existe neste País um ditado que reza que quem não se sente, não é filho de boa gente. E os Lusos sentiram que tinham sido ofendidos – e de que maneira. A velha estória de morder a mão que lhe dá de comer.

As televisões passaram o desgraçado vídeo, no qual um grupo feminino (ao que parece constituído pelos elementos do programa e pela própria Maitê Proença) gozava com as alarvidades que a «dona» fabricara. A internet, em consonância com os ecrãs, ampliou o miserável assunto, com a força que se lhe reconhece. Os cidadãos aumentaram o tom dos comentários, excedendo-se até em muitas circunstâncias.


Leia mais no blog do Antunes Ferreira.

28 de setembro de 2009

Estudo demonstra que a produção de etanol e biodiesel consome mais energia do que aquela proporcionada por estes combustíveis


por Susan S. Lang

Converter plantas como milho, soja e girassol em combustível gasta mais energia do que o etanol ou o biodiesel fabricado, segundo um novo estudo da Universidade de Cornell e da Universidade da Califórnia (Berkeley)

"Não há benefício energético em utilizar a biomassa das plantas para produzir combustíveis líquidos", afirma David Pimentel, professor de ecologia e agricultura em Cornell. "Estas estratégias não são sustentáveis".

Pimentel e Tad W. Patzek, professor de engenharia civil em ambiental em Berkeley, efectuaram uma análise pormenorizada dos rácios energéticos dos inputs para produzir etanol a partir da biomassa de milho, capim (switch grass) e madeira, bem como para produzir biodiesel a partir da soja e do girassol. O seu relatório está publicado em Natural Resources Research (Vol. 14:1, 65-76) .

Em termos de output de energia comparado com o input para a produção de etanol o estudo descobre que:
  • o milho exige 29 por cento mais energia fóssil do que o combustível produzido;
  • o capim exige 45 por cento mais energia fóssil do que o combustível produzido;
  • a biomassa da madeira exige 57 por cento mais energia fóssil do que o combustível produzido.

    Em termos de output de energia comparado com o input para a produção de energia, o estudo descobre que:

  • a plantação de soja exige 27 por cento mais energia fóssil do que o combustível produzido; e
  • a plantação de girassol exige 118 por cento mais energia fóssil do que o combustível produzido.

    Na avaliação dos inputs os investigadores consideraram factores tais como a energia utilizada para produzir a colheita (incluindo produção de pesticidas e fertilizantes, movimentar maquinaria agrícola e de irrigação, trituração e transporte da colheita) e na fermentação/destilação do etanol a partir da mistura aquosa. Embora se verifiquem custos adicionais, tais como subsídios federal e estaduais que são transferidos para consumidores e custos associados à poluição ou degradação ambiental, estes números não foram incluídos na análise.

    "Os Estados Unidos precisam desesperadamente de um combustível líquido de substituição do petróleo no futuro próximo", afirma Pimentel, "mas produzir etanol ou biodiesel a partir da biomassa das plantas é tomar o caminho errado, porque você utiliza mais energia para produzir estes combustíveis do que aquela que você obtém a partir da combustão destes produtos".

    Embora Pimentel advogue a utilização da queima da biomassa para produzir energia térmica (para o aquecimento de casas, por exemplo), ele lamenta o uso da biomassa para combustíveis líquidos. "O governo gasta mais de US$ 3 mil milhões por ano para subsidiar a produção de etanol quando esta não proporciona um balanço líquido de energia, ou ganho, não é uma fonte de energia renovável ou um combustível económico. Além disso, a sua produção e utilização contribuem para a poluição do ar, da água e do solo e para o aquecimento global", afirma Pimentel. Ele salienta que a vasta maioria dos subsídios não vai para agricultores e sim para grandes corporações produtoras de etanol.

    "A produção de etanol nos Estados Unidos não beneficia a segurança energética do país, sua agricultura, economia ou o ambiente", declara Pimentel. "A produção de etanol exige grandes inputs de energia fóssil e, portanto, ela está a contribuir para importações de petróleo e gás natural e para défices americanos". Ele considera que o país deveria, ao invés disso, centrar seus esforços na produção de energia eléctrica a partir de células fotovoltaicas, energia eólica e queima da biomassa e produzir combustível a partir da conversão do hidrogénio.

    05/Julho/2005

    Resumo do estudo "Ethanol Production Using Corn, Switchgrass, and Wood; Biodiesel Production Using Soybean and Sunflower" de David Pimentel e Tad W. Patzek (ISSN: 1520-7439):
    Abstract: Energy outputs from ethanol produced using corn, switchgrass, and wood biomass were each less than the respective fossil energy inputs. The same was true for producing biodiesel using soybeans and sunflower, however, the energy cost for producing soybean biodiesel was only slightly negative compared with ethanol production. Findings in terms of energy outputs compared with the energy inputs were: • Ethanol production using corn grain required 29% more fossil energy than the ethanol fuel produced. • Ethanol production using switchgrass required 50% more fossil energy than the ethanol fuel produced. • Ethanol production using wood biomass required 57% more fossil energy than the ethanol fuel produced. • Biodiesel production using soybean required 27% more fossil energy than the biodiesel fuel produced (Note, the energy yield from soy oil per hectare is far lower than the ethanol yield from corn). • Biodiesel production using sunflower required 118% more fossil energy than the biodiesel fuel produced.
    Key Words: Energy - biomass - fuel - natural resources - ethanol - biodiesel
    O estudo pode ser adquirido em http://springerlink.metapress.com/ .


    O original encontra-se em
    http://www.news.cornell.edu/stories/July05/ethanol.toocostly.ssl.html



  • Biocombustíveis: florestas pagam o preço


    por Fred Pearce

    O impulso para a "energia verde" no mundo desenvolvido está a ter o efeito perverso de fomentar a destruição das florestas húmidas tropicais. Desde as reservas de orangotangos no Bornéu até à Amazónia brasileira, florestas virgens estão a ser arrasadas a fim de produzir óleo de palma e soja para abastecer automóveis e centrais de energia eléctrica na Europa e na América do Norte. A escalada de preços provavelmente acelerará a destruição.

    A pressa em produzir energia a partir de óleos vegetais está a ser impulsionada, em parte, por directivas da União Europeia que obrigam a misturar biocombustíveis aos combustíveis convencionais, e também por subsídios equivalentes a cerca de 20 pence (0,30 €) por litro. Na semana passada, o governo britânico anunciou a meta de que os biocombustíveis deveriam atingir 5% nos transportes até 2010. O objectivo é ajudar a cumprir as metas do protocolo de Quioto quanto à redução das emissões dos gases de efeito estufa.

    A procura crescente de energia verde levou a um aumento súbito do preço internacional de óleo de palma com consequências potencialmente danosas. "A expansão da produção de óleo de palma é uma das principais causas de destruição de florestas húmidas no sudeste asiático. É um dos produtos que maior dano ambiental provoca no planeta", afirma Simon Counsell, director da "Rainforest Foundation" com sede no Reino Unido. "Mais uma vez, parece que estamos a tentar resolver os nossos problemas ambientais despejando-os nos países em vias de desenvolvimento, onde eles têm efeitos devastadores sobre a população local".

    A principal alternativa ao óleo de palma é o de soja. Mas a soja é a maior causa de destruição da floresta húmida na Amazónia brasileira. Apoiantes dos biocombustíveis argumentam que eles podem ser "neutros" no ciclo do carbono porque o CO 2 libertado na sua queima é reabsorvido na plantação seguinte. O interesse é maior nos motores de ciclo diesel, que podem funcionar sem modificações também com óleos vegetais, e na Alemanha a produção de biodiesel duplicou desde 2003. Também há planos para a queima de óleo de palma em centrais eléctricas. "Mais uma vez, estamos a tentar resolver os nosso problemas ambientais empurrando-os para os países em vias de desenvolvimento".

    Até há pouco tempo, o pequeno mercado europeu de biocombustíveis era dominado pela produção local de óleo de colza (canola). Mas a procura acrescida no mercado alimentar também fez aumentar o preço de óleo de colza. Isto levou os fabricantes de combustível a optarem pelo óleo de palma e de soja, em substituição. Os preços de óleo de palma saltaram então 10% só no mês de Setembro e prevê-se que subam 20% no próximo ano, enquanto a procura global por biocombustíveis está agora a crescer à taxa de 25% ao ano.

    Roger Higman, da associação "Amigos da Terra" do Reino Unido, que apoia os biocombustíveis, diz: "Precisamos assegurar que as colheitas usadas para fazer o combustível foram cultivadas de um modo sustentável ou então teremos as florestas húmidas deitadas abaixo para dar lugar a plantações de óleo de palma destinado a fabricar biodiesel".

    O original encontra-se em http://www.newscientist.com/article.ns?id=mg18825265.400 , revista New Scientist nº 2526, 22/Novembro/2005, pág. 19. Tradução de Alexandre Leite.

    O biodiesel – a produção mais destrutiva da Terra – não é solução para a crise energética


    Ao promover o biodiesel como substitutivo do petróleo esquecemo-nos de que ele é pior do que a queima do combustível fóssil que substitui

    por George Monbiot

    No último par de anos fiz uma descoberta desconfortável. Tal como a maior parte dos ambientalistas, tenho estado tão cego para as restrições que afectam o nosso abastecimento de energia quanto os meus oponentes tem estado para a mudança climática. Apercebo-me agora de que me tenho entretido com uma crença na magia.

    Em 2003, o biólogo Jeffrey Dukes calculou que os combustíveis fósseis que queimamos num ano eram constituídos por matéria orgânica "contendo 44 x 1018 gramas de carbono, o que é mais de 400 vezes a produtividade primária líquida da actual biota [1] planetária". Em linguagem simples, isto quer dizer que todos os anos se utiliza o valor de quatro séculos de plantas e animais.

    A ideia de que podemos simplesmente substituir esta herança fóssil – e as extraordinárias densidades de energia que nos proporciona – por energia ambiental é coisa da ficção científica. Simplesmente não há substitutivo para o corte. Mas os substitutivos estão a ser procurados por toda a parte. Estão a ser promovidas hoje nas conferências em Montreal, por Estados – tais como os nossos – que procuram evitar as difíceis decisões que a mudança climática exige [2] . E pelo menos um sucedâneo é pior do que a queima de combustível fóssil que vem substituir.

    A última vez que chamei a atenção para os perigos de fabricar gasóleo a partir de óleos vegetais recebi tantos insultos quantos os que me foram dirigidos devido à minha posição acerca da guerra no Iraque. Os missionários do biodiesel, descobri, são tão vociferantes na sua negação quanto os executivos da Exxon. Agora estou pronto a admitir que o meu artigo anterior estava errado. Mas eles não vão gostar disto. Estava errado porque subestimei o impacto destrutivo deste combustível.

    Antes de avançar mais, devo esclarecer que transformar óleo usado de frituras em combustível é uma coisa boa. As pessoas que arrastam todos os dias à barris de sujeira estão a fazer um serviço à sociedade. Mas no Reino Unido há desperdícios de óleo de cozinha suficiente para satisfazer a 1/380 avos da nossa procura de combustível para transporte rodoviário. Mas isto é só o começo do problema.

    No ano passado, quando escrevia sobre isso, ainda pensava que o maior problema provocado pelo biodiesel era o de estabelecer uma competição pelo uso da terra. A terra arável que de outra forma poderia ter sido utilizada para produzir alimentos seria, ao invés disso, utilizada para produzir combustível. Mas agora descubro que uma coisa ainda pior está a acontecer. A indústria do biodiesel inventou acidentalmente o combustível mais intensivo em carbono do mundo.

    Ao promover o biodiesel – tal como faz a UE, os governos britânico e dos EUA e milhares de ambientalistas – poderia imaginar-se que se estava a criar um mercado para os desperdícios do óleo usados das frituras, ou para o óleo de semente de colza, ou para o óleo das algas que crescem nas lagoas dos desertos. Na realidade está a criar-se um mercado para a plantação mais destrutiva da Terra.

    O presidente da autoridade federal para o desenvolvimento agrícola da Malásia anunciou na semana passada que estava prestes a construir uma nova fábrica de biodiesel. Era a sua nona decisão neste sentido em quatro meses. Estão a ser construídas quatro novas refinarias na Malásia, uma no Sarawak e duas em Roterdão. Dois consórcios estrangeiros – um alemão e outro americano – estão a montar fábricas concorrentes em Singapura. Todos eles virão a produzir biodiesel a partir da mesma fonte: óleo de palma.

    "A procura pelo biodiesel", informa o Malaysian Star, "virá da Comunidade Europeia… Esta nova procura… viria, no mínimo, absorver a maioria dos stocks de óleo de palma bruto da Malásia". Porquê? Porque é mais barato que o biodiesel produzido a partir de qualquer outra cultura.

    Em Setembro, os Amigos da Terra (Friends of the Earth) publicaram um relatório sobre o impacto da produção de óleo de palma. "Entre 1985 e 2000", concluía-se, "o desenvolvimento das plantações de óleo de palma foi responsável por uma desflorestação na Malásia estimada em 87%. Em Sumatra e no Bornéu, cerca de 4 milhões de hectares de floresta foram convertidos em plantações de palmeiras. Agora está projectada a liquidação de mais 6 milhões de hectares na Malásia, e outros 16,5 milhões na Indonésia.

    Quase toda a floresta remanescente está em risco. Até o famoso Parque Nacional Tanjung Puting em Kalimantan está a ser desvastado pelos colonos do óleo. O orangotango provavelmente desaparecerá da floresta. Os rinocerontes, os tigres, os macacos probóscides, os tapires e milhares de outras espécies podem ter o mesmo destino. Milhares de indígenas foram expulsos das suas terras, e cerca de 500 indonésios foram torturados quando tentaram resistir. Os incêndios florestais que de vez em quando sufocam a região com smog são iniciados sobretudo por plantadores de palma. Toda a região está a ser transformada num gigantesco campo de óleo vegetal.

    Antes de serem plantadas as palmeiras, que são pequenas e baixas, muitas outras árvores de floresta, que contêm uma muito maior armazenagem de carbono, têm de ser abatidas e queimadas. Uma vez esgotadas as terras mais secas, as plantações estão a mover-se para as florestas de pântano, que crescem sobre turfa. Depois de terem cortado estas árvores, os agricultores drenam o solo. À medida que a turfa vai secando ela oxida-se, libertando ainda mais dióxido de carbono do que as árvores. Em termos de impacto quer no ambiente local quer no global, o biodiesel de palma é mais destrutivo que o petróleo bruto da Nigéria.

    O governo britânico compreende isto. Num relatório publicado no mês passado, quando anunciou que ia obedecer à UE e garantir que até 2010 5,75% do nosso combustível para o transporte rodoviário proviesse de plantas, admitiu "que os principais riscos ambientais são provavelmente os relativos a uma ampla expansão na produção da matéria-prima para o biodiesel, particularmente no Brasil (com a cana de açúcar) e no sudeste asiático (com as plantações de óleo de palma) ".

    Sugeria-se ali que o melhor meio para lidar com o problema era impedir a importação de combustíveis ambientalmente destrutivos. O governo indagou junto aos seus consultores se uma proibição infringiria as regras de comércio mundial. A resposta foi sim: "Os critérios ambientais compulsórios … aumentariam grandemente o risco de desafio legal internacional a essa política como um todo". Assim, em vez disso, abandonou a ideia de banir as importações e apelou a "alguma forma de esquema voluntário". Dessa forma, o governo decidiu avançar mesmo tendo conhecimento de que a criação deste mercado vai levar a um incremento maciço das importações de óleo de palma, de que não há nada significativo que possa fazer para as impedir e de que ele vai acelerar ao invés de atenuar a mudança climática.

    Em outros tempos o governo desafiou alegremente a UE. Mas agora o que a UE quer e aquilo que o governo quer é a mesma coisa. "É essencial equilibrar o aumento da procura por viagens", diz o relatório do governo, "com os nossos objectivos de protecção do ambiente". Até muito recentemente, tínhamos uma política de redução da procura por viagens. Agora, embora não tenha sido feito qualquer anúncio, esta política desapareceu. Tal como a dos conservadores no início dos anos 90, a administração trabalhista tenta atender à procura por mais que ela suba. Os números obtidos na semana passada pelo grupo propagandista Road Block mostram que só para o alargamento da auto-estrada M1 o governo vai pagar 3,6 mil milhões de libras [5,3 mil milhões de euros] – mais do que está a gastar em todo o seu programa para a mudança climática. Em vez de tentar reduzir a procura, está a tentar alterar a oferta. Está pronto a sacrificar as florestas tropicais do sudeste asiático para parecer actuante e permitir aos motoristas que se sintam melhor consigo próprios.

    Tudo isto ilustra a futilidade dos remendos tecnológicos (technofixes) perseguidos em Montreal. Tentar atender uma procura crescente por combustível é loucura, de onde quer que ele provenha. As decisões difíceis foram evitadas, e mais uma porção da biosfera está a esfumar-se.

    Notas do tradutor:

    [1] Biota: conjunto da flora e da fauna existente num sistema.

    [2] É discutível a existência da referida mudança climática (ou aquecimento global, como dizem alguns). Marcel Leroux, importante climatologista francês, nega que esteja a haver aquecimento global do planeta. Ver Aquecimento global - Mito ou realidade: Os caminhos erráticos da climatologia e La dynamique du temps et du climat .
    No entanto, o problema levantado por Monbiot — a devastação que pode ser provocada pelo biodiesel na vã tentativa de substituir o petróleo — é suficientemente importante por si próprio. Não é preciso portanto recorrer ao argumento do suposto aquecimento global a fim de condenar a produção de biodiesel em grande escala.

    O original encontra-se em http://www.guardian.co.uk/science/story/0,,1659469,00.html .
    Tradução de Jorge Figueiredo.


    27 de setembro de 2009

    O ETANOL DE RORAIMA NÃO É BOM PARA O BRASIL

    * Ciro Campos

    A nova usina de etanol da Amazônia não é boa para Roraima nem para o Brasil, e pode comprometer a conquista do selo verde que o etanol brasileiro precisa. A nova usina não ajudaria o Brasil porque tem tudo que o mercado internacional não quer: é uma nova usina, fica na Amazônia, vai gerar desflorestamento e disseminar o impacto da cana em uma das maiores bacias hidrográficas da Amazônia.

    É uma nova usina: a nova usina ainda não existe e nem obteve autorização para começar as obras, ao contrário do que foi informado aos ministros Minc e Stephanes em agosto do ano passado. Os canaviais para a produção da usina ainda não foram plantados, e os plantios que existem ainda se destinam apenas à produção de mudas.

    É na Amazônia: se for aprovada, a nova usina e os canaviais seriam implantados na maior savana do bioma Amazônia, que fica no estado de Roraima, na região conhecida como Lavrado. Segundo os cientistas e também o IBGE, o Lavrado faz parte do bioma Amazônia, que inclui não só florestas, mas também savanas, campinas, bambuzais, várzeas, etc.

    Vai gerar desflorestamento: desflorestamento não significa apenas a derrubada de florestas, mas também a retirada de qualquer vegetação natural, seja floresta ou campo, seja na Amazônia ou em qualquer outra parte do Brasil. Se a usina for aprovada, seus canaviais seriam plantados sobre a vegetação nativa do Lavrado, considerado pelo governo federal como área prioritária para conservação da biodiversidade.

    Vai disseminar a cana em nova uma bacia hidrográfica: a nova usina seria implantada às margens do rio Tacutu, formador do rio Branco, principal afluente do rio Negro. A bacia do rio Negro é uma das maiores, mais ricas e mais conservadas da Amazônia. A nova usina, portanto, seria instalada nas cabeceiras da bacia do rio Negro, elevando em muitas vezes o volume de insumos tóxicos aplicados nesta parte da Amazônia, e na vizinhança de terras indígenas. A densa rede de rios localizada nos arredores na nova usina tem pouca água no período seco, que coincide com o período de aplicação dos bilhões de litros de vinhoto e agrotóxicos, potencializando o impacto de uma possível contaminação.

    Com essas características, essa nova usina coloca em risco o esforço do governo federal, empenhado em garantir ao mercado internacional que o etanol brasileiro não ameaça a Amazônia, o Pantanal, e não compromete as águas, a biodiversidade e a qualidade de vida dos povos. O custo-benefício se revela inviável, pois ela aumentaria em apenas um por cento a área plantada com cana, mas colocaria em risco o valor de todo o etanol que o país produz. O necessário esforço para reduzir as emissões de carbono não pode resultar em novos problemas ambientais, e não deve justificar a expansão do etanol sobre as savanas amazônicas. As riquezas naturais dessa região, assim como o petróleo do pré-sal, são ativos estratégicos que pertencem ao povo brasileiro e que, portanto, precisam servir ao conjunto da nação, e não apenas a este ou aquele estado da federação.

    Existem outros meios para o governo federal ajudar o povo de Roraima a viver com dignidade. Fortalecer a produção rural que já existe e investir em indústrias de beneficiamento aumenta a renda no interior, gera empregos nas cidades e fixa a família na sua terra, para que ela não seja vendida ou arrendada em favor da nova usina. Aproveitar o cenário favorável ao comércio internacional e a vocação natural para o turismo também pode gerar divisas. A copa de 2014 será uma boa oportunidade para firmar o estado como potência sócio-ambiental e abrir as portas para o turismo internacional. A produção de biodiesel a partir do inajá, palmeira nativa que é praga na região, pode ser interessante. O Lavrado de Roraima também é campeão amazônico em potencial de geração de energia a partir do sol e dos ventos, potencial que pode ser aproveitado. Além disso, ainda podemos receber a compensação ambiental pela água, o carbono e a biodiversidade, compensação que não é esmola, mas justo pagamento para quem protege os tesouros da nação.

    As iniciativas do governo federal para desenvolver Roraima, como a Zona de Processamento de Exportação, a Área de Livre Comércio, a ligação Brasil-Guiana e a regularização das terras, devem ajudar na criação de um modelo de desenvolvimento realmente novo, com democracia econômica e fundiária, aonde a terra cumpra o seu papel de melhorar a vida do povo e esse povo cumpra o seu papel de contribuir para a grandeza do país. Não é cobrindo a paisagem natural de savanas amazônicas com cana e soja que o estado estará dando sua melhor contribuição ao país. O principal papel de Roraima para a grandeza e o futuro do país é proteger e usar com sabedoria as riquezas naturais que podem fazer do Brasil a potência do século vinte e um. Essa é a maior contribuição que, com muito orgulho, Roraima pode dar ao Brasil.

    * Coletivo Ambiental do Lavrado
    ciro.roraima@yahoo.com.br

    23 de setembro de 2009

    Honduras: A crise é boa, para expor nossos "democratas"

    Manaus - Publicado no site Vi o mundo.



    Existem pontos positivos na cobertura que a mídia brasileira faz dos acontecimentos em Honduras. O primeiro deles é revelar a completa ignorância de muitos sobre a América Latina. O segundo é de iluminar o caráter "democrático" de alguns jornalistas e políticos.
    Tive o prazer de conhecer alguma coisa da América Central. Já estive no Panamá, na Costa Rica, em El Salvador e em Honduras.

    Em Honduras fiz reportagens sobre a "guerra do futebol" e sobre a epidemia de AIDS. Fui a Tegucigalpa e a San Pedro Sula. Viajei pelo interior. Os militares sempre tiveram papel central na política hondurenha. Promoveram uma política de extermínio contra os "campesinos", quando estes aderiram aos movimentos populares que em países vizinhos resultaram em guerras civis (El Salvador e Nicarágua).

    Como em outros países da região, os anos 70 e 80 em Honduras foram marcados por rápida urbanização e por uma explosão das demandas sociais. A imigração para os Estados Unidos funcionou como válvula de escape. Depois que os Estados Unidos, no governo Reagan, deram forte apoio às elites locais na suposta luta anticomunista -- na verdade, para esmagar movimentos populares --, Washington resolveu adotar uma política regional de pacificação econômica.

    Os americanos promoveram uma área de livre comércio regional. As maquilas se disseminaram. São as "maquiladoras", ou maquiadoras, empresas que tiram proveito da área de livre comércio para montar produtos que recebem vantagem tarifária para ingressar no mercado dos Estados Unidos. Os capitais vieram da Ásia, especialmente de Taiwan e da Coréia do Sul. Qual é o papel dos centro-americanos nessa história? O de mão-de-obra barata. Qual é o papel das elites locais? Além de se associar ao capital estrangeiro para enriquecer, cabe a elas garantir que os trabalhadores não se sindicalizem e não obtenham conquistas sociais. As condições de trabalho nas maquiladoras são pré-revolução industrial.

    A equação era essa: os homens imigravam para os Estados Unidos para fazer o papel de derrubar o salário dos trabalhadores americanos. As mulheres serviam às maquiladoras em condições sub-humanas.

    Porém, com a crise econômica nos Estados Unidos, esse modelo ruiu. Muitos pais de família hondurenhos perderam o emprego nos Estados Unidos. A caça aos imigrantes promovida pelos republicanos também os afetou. Nas economias dependentes de remessa de dólares a crise se aprofundou. Manuel Zelaya abandonou antigos aliados em nome de romper com esse modelo, no qual Honduras entra apenas com o trabalho servil de seus homens e mulheres.

    Portanto, não se trata apenas de dizer que Manuel Zelaya é o presidente constitucional de Honduras, eleito pela maioria dos eleitores e que o governo golpista é ilegítimo e ilegal. É importante expor claramente quem são os golpistas, a quem servem: àqueles que querem manter os hondurenhos numa servidão pré-Getúlio Vargas. Só assim para expor a elite brasileira da maneira como ela precisa ser exposta: como representação verde-amarela de interesses parecidos com aqueles representados pelos afrikâners, que inventaram um sistema sofisticado para fazer o mesmo que a elite hondurenha faz: manter parte da população -- no caso da África do Sul, os negros; no caso de Honduras, os "campesinos" -- na servidão.

    O Brasil e a crise política em Honduras

    Manaus - O Brasil vive um momento de respeitabilidade internacional sem precedentes e que tem contribuído para sedimentar novos consensos junto a organismos internacionais.

    Diante da imprevisibilidade com que atuam os golpistas em Honduras, a gestão da crise dependerá fundamentalmente da perícia diplomática brasileira e do cuidado técnico em não contribuir para o aprofundamento da violência militar. O artigo é de Carol Proner.




    A atual crise vivida por Honduras constitui um caso importante a ser estudado pelo direito internacional do nosso país. Primeiro porque se trata de um conflito que repercute mundialmente e que implica de modo amplo a América Latina e particular o Brasil. Também porque a análise requer a ponderação de diversos aspectos que incluem a legalidade do governo hondurenho e a aplicação de medidas e normas por uma autoridade que não é reconhecida internacionalmente como legítima e, ao mesmo tempo, um amplo espectro geopolítico que vem determinando as ações adotadas por outros países.

    O Brasil atualmente está no centro da crise por haver recebido José Manuel Zelaya Rosales em sua Embaixada na condição de convidado por ser o presidente legítimo de Honduras. Zelaya não foi recebido na condição de asilado político, mas de Presidente legítimo. Essa condição de autoridade constitucional já havia sido confirmada por outros 192 países nas Nações Unidas que, por unanimidade, votaram uma resolução de repúdio ao Golpe de Estado exigindo a restauração imediata e incondicional do Presidente Zelaya. No âmbito interamericano a decisão unânime foi no sentido da suspensão de Honduras da Organização dos Estados Americanos com base na ruptura da ordem democrática e no fracasso de iniciativas diplomáticas (Carta Democrática Interamericana).

    Outros Estados também adotaram medidas concretas como forma de pressionar o governo golpista a restabelecer a legitimidade. A Comissão Européia anunciou o congelamento de um fundo de ajuda orçamentária ao governo de Honduras e, após haver chamado para consultas todos os embaixadores de seus países-membros com representatividade no país, ratificou a suspensão das negociações de um acordo comercial com os países da América Central até que o presidente deposto retorne ao poder. França, Espanha e Itália tomaram medidas de repúdio ao golpe e o embaixador da Alemanha deixou o país.

    A Espanha comunicou a expulsão do embaixador hondurenho em Madri depois de sua destituição pelo presidente Zelaya e destacando ser um ato de coerência com o compromisso da comunidade internacional de manter a interlocução oficial com o governo constitucional de Honduras.

    O Departamento de Estado norte-americano, embora pressionado por setores ultraconservadores, anunciou a suspensão da concessão de vistos não emergenciais a cidadãos hondurenhos e planejam cortar mais US$ 25 milhões em assistência caso Zelaya não seja restituído à Presidência.

    O caso de Honduras já seria interessante pelo ineditismo de canalizar o amplo repúdio da comunidade internacional a golpes militares e a interrupções bruscas e ditatoriais da normalidade democrática. Mas outros elementos o fazem especialmente chamativo, como o posicionamento do Departamento de Estado norte-americano até o momento e a expectativa pelos gestos futuros, a mudança de postura da OEA que também responde a uma renovação trazida pelo governo de Obama e a coordenação latino-americana em torno de causas comuns.

    O Brasil vive um momento de respeitabilidade internacional sem precedentes e que tem contribuído para sedimentar novos consensos junto a organismos internacionais, mas diante da imprevisibilidade com que atuam os golpistas, a gestão da crise dependerá fundamentalmente da perícia diplomática brasileira e do cuidado técnico em não contribuir para o aprofundamento da violência militar. Não há razões para suspeitar que o Itamaraty seja incapaz de enfrentar o ineditismo desse desafio, apesar da resposta covarde dos golpistas e dos saudosistas de regimes militares. Estes não apenas em Honduras.

    (*) Carol Proner é doutora em Direito, Professora de Direito Internacional da UniBrasil e Pesquisadora da l'École des hautes études en sciences sociales em Paris, Professora do Programa de Direitos Humanos e Desenvolvimento da Universidade Pablo de Olavide, Sevilha. carolproner@uol.com.br. 

    Agência Carta Maior

    14 de setembro de 2009

    Lula e o molusco

    Boa Vista - O presidente Lula está hoje em Roraima. A chegada foi silenciosa. A recepção é que não foi. Políticos ruralistas promoveram baderna no Aeroporto e levaram porrada da Polícia Militar. Hummm. Escrever isso é como estar na redação de Veja. É a anti-Manchete da Veja. Ou uma manchete da Anti-Veja. Caetaneável.

    Roraima é um universo paralelo onde tudo é diferente. Aqui os ricos apanham da polícia e políticos inauguram "internet rápida" numa escola em greve. Enquanto isso, artigos desmentem o Ibope e classificam Lula como o pior presidente da História (!). A imprensa, com seu doutorado em Antropologia, decide que os índios não são originários da região e citam a referência bibliográfica: o jornal Valor Econômico.

    Uma natureza assustadoramente bela, ameaçada por velha aristocracia rural que aboia uma massa ignara conduzida a pão e circo. Isto é Roraima. É a vida é de gado (Zé Ramalho) de um polvo sem controle sobre os próprios tentáculos.

    11 de setembro de 2009

    Chávez, Ahmadinejad e a nova “crise dos mísseis”


    por Alejandro Peña Esclusa, 28 de fevereiro de 2009


    Em 6 de janeiro de 2009, Hugo Chávez expulsou o embaixador de Israel na Venezuela. No dia seguinte, o grupo terrorista Hamas felicitou publicamente a “valente medida do presidente venezuelano”. Três semanas mais tarde, depois de reiterados discursos anti-semitas por parte de funcionários venezuelanos, a Sinagoga Tiferet Israel em Caracas foi selvagemente profanada. Os perpetradores foram posteriormente capturados pela polícia, porém não há dúvida de que atuaram incentivados pelo discurso oficialista.
    Os fatos não são casuais. São o resultado dos múltiplos acordos políticos e econômicos firmados entre Chávez e o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que prometeu “apagar Israel da face da Terra”. Cabe perguntar: a que se deve esta estranha aliança entre um dirigente marxista venezuelano e um líder fundamentalista iraniano?
    Em que pese o mito do suposto apoio com que Chávez conta, a realidade é que ele se mantém no poder devido à fraude eleitoral, à compra de consciências, à repressão contra seus adversários e o medo generalizado. Chávez sabe muito bem que, com a queda do preço do petróleo, enfrentará muito em breve uma situação muito difícil caracterizada pela inflação, o desemprego e o desabastecimento.
    Frente à crise, os venezuelanos exigirão resultados concretos que Chávez será incapaz de lhes proporcionar. Além disso, o culparão por não ter feito previsões nos tempos de bonança e por ter diesperdiçado milhares de dólares em sua revolução continental. De modo que não lhe restará outro remédio senão recorrer à repressão para refrear a população.
    Chávez não acredita que os militares venezuelanos estejam dispostos a cometer delitos de lesa-humanidade para sustentar seu governo. As milícias e as forças para-militares oficialistas não estão suficientemente preparadas. As FARC colombianas – aliadas incondicionais de Chávez – estão sendo desmanteladas. Portanto, Chávez necessita de outra força de choque capaz de conter o descontentamento popular e aferrá-lo no poder.
    Em finais de 1962, se apresentou a Fidel Castro uma situação similar à que hoje vive Chávez. Apesar de haver derrotado seus adversários na Baía dos Porcos, Castro ficou debilitado e preocupado. A solução para seu dilema foi emprestar o território cubano para a colocação de mísseis nucleares soviéticos alinhados para os Estados Unidos. Como conseqüência da “crise dos mísseis”, foi assinado um acordo entre Kennedy e Kruschev que, dentre outras coisas, serviu para manter o regime castrista até a presente data.
    Chávez, pupilo de Fidel Castro, aprendeu a lição; só que substituiu a ameaça soviética do século XX pela ameaça moderna do século XXI: o fundamentalismo islâmico. Chávez pretende emprestar o território venezuelano aos grupos terroristas do Oriente Médio, não só para que o defendam internamente com o uso das armas, mas para ter uma poderosa ferramenta de dissuasão para com seus adversários internacionais.
    Como se fosse pouco, Chávez exportou sua estratégia de terror abrindo a seu “irmão” Ahmadinejad as portas da Bolívia, do Equador e da Nicarágua, cujos governos também assinaram acordos políticos e econômicos com o Irã. Se semelhante loucura não for freada logo, desta vez a “crise dos mísseis” ocorrerá em nível continental.


    Tradução: Graça Salgueiro

    O que há de comum entre Hitler e Chávez?


    Publicado por Latin America Defesanet, 05 Março 2007


    Hugo Chávez (1954-), atual presidente da Venezuela, e Adolf Hitler (1889-1945), antigo líder e chanceler da Alemanha (1933-1945), apresentam algumas similaridades nas suas carreiras políticas, mesmo que um seja adepto do marxismo e o outro o criador do nazismo, correntes políticas antagônicas.Ambos foram militares antes de ingressarem na política. Ambos fizeram tentativas fracassadas de tomar o poder: Hitler em 1923 e Chávez em 1992. Ambos cumpriram penas por tais tentativas. Hitler foi condenado a cinco anos de prisão, em abril de 1924, e permaneceu preso pouco mais de um ano (incluindo o período antes e durante seu julgamento), sendo libertado em dezembro de 1924, quando o governo decidiu que ele não era perigoso para a sociedade. Chávez permaneceu preso dois anos e foi libertado em 1994, após ter sido perdoado pelo presidente da Venezuela.Tanto Hitler como Chávez chegaram ao poder através do voto e, de forma similar, seus dois países enfrentavam situações econômicas com alta inflação e altas taxas de desemprego. O partido nazista alcançou a maioria no Parlamento nas eleições de abril de 1932. No entanto, o presidente Hindenburg recusou-se a indicar um simples cabo para o cargo de chanceler, indicando o aristocrata Franz von Papen em seu lugar. Como apenas um partido minoritário o apoiava no Parlamento, ele convocou novas eleições em julho, na qual os nazistas conquistaram uma vitória retumbante. Novamente Hindenburg recusou-se a indicar Hitler. Quando o governo von Papen perdeu um voto de confiança no Parlamento, novas eleições foram convocadas, para novembro, quando novamente os nazistas conquistaram a maioria. Uma terceira vez Hindenburg indicou outro nome ao invés de Hitler, desta vez o general Kurt von Schleicher, o qual não conseguiu formar um governo; em janeiro de 1933, Hindenburg não teve alternativa senão a de nomear Hitler como chanceler, com o apoio declarado de industriais e homens de negócios. Em fevereiro de 1933, houve um incêndio no Parlamento, com os comunistas sendo acusados pelo governo como responsáveis, apesar de muito provavelmente terem sido os próprios nazistas que engendraram o incêndio. Com isso, Hitler conseguiu banir seus principais adversários, os comunistas, e em março de 1933, o Parlamento aprovou um ato legislativo que dava plenos poderes a Hitler; alguns partidos, entre eles o social-democrata, foram banidos, ao passo que outros se auto-dissolveram. Em 1934, com a morte do presidente Hindenburg, Hitler passou uma nova lei na qual a presidência era declarada dormente e nomeava ele como líder e chanceler (Führer und Reichskanzler). Todos os integrantes das forças armadas foram obrigados a prestar juramento de fidelidade incondicional a Hitler. Após a conquista total do poder, o governo nazista investiu maciçamente no rearmamento e melhoria das condições de vida da população, incluindo a construção de auto-estradas e de melhores moradias. Todos os meios de produção foram colocados sob o controle do estado. O desemprego diminuiu consideravelmente sem, no entanto, ter sido erradicado como a propaganda nazista apregoou. A inflação foi manipulada pelo governo nazista, a fim de parecer menor do que realmente era; a conquista de vários países nos primeiros anos da II Guerra Mundial contribuiu para reduzir a inflação, já que os depósitos de ouro daqueles países foram tomados pela Alemanha Nazista. Em 1944, houve um atentado fracassado contra a vida de Hitler; todos os integrantes do movimento foram caçados e fuzilados rapidamente. Os poderes absolutos de Hitler, a transformação da Alemanha num estado policial e a agressão a outros países (apoiado pelas perniciosas políticas de apaziguamento da Grã-Bretanha e da França) levaram o mundo ao pior conflito do século XX, quando mais de 50 milhões de pessoas pereceram - e Hitler acabou por se suicidar em 30 de abril de 1945, quando a guerra já estava perdida para a Alemanha.Chávez, após ser libertado, reconstruiu seu movimento político e, com o apoio de bancos estrangeiros à sua campanha presidencial em 1998, foi eleito com 56% dos votos. Seus primeiros atos dentro da chamada "revolução bolivariana" foram de reconstrução do país, com investimentos na construção de estradas e moradias e na saúde pública. Também reverteu processos de privatização em andamento e promoveu reformas na constituição, aumentando o mandato presidencial de cinco para seis anos. Em 2000, após a vitória nas eleições presidenciais, com 60% dos votos, o congresso venezuelano, com o apoio de Chávez, aprovou um ato legislativo que deu poderes a Chávez para governar por decreto por um ano. Em 2001, após Chávez ter decretado a nacionalização da produção de petróleo e derivados e imposição de reforma agrária, houve uma greve geral para tentar forçar Chávez a discutir tais decretos, porém com quase nenhum resultado. Ao final daquele ano a inflação havia caído para aproximadamente 12%, o índice mais baixo desde 1986. Em 2002, após manifestações populares contrárias a Chávez e uma forte reação do governo, Chávez foi deposto pelo comandante das forças armadas venezuelanas no dia 11 de abril; as medidas tomadas pelo novo presidente, Pedro Carmona, revertendo os decretos populistas de Chávez, não foram aceitas pela população pró-Chávez e, dois dias após, Chávez retornou ao poder. Novas medidas foram tomadas, estendendo a reforma agrária, o acesso gratuito à educação até o nível universitário e a nacionalização de atividades econômicas consideradas estratégicas para a Venezuela. A partir de 2004, um forte processo de rearmamento foi iniciado, firmando acordos com a Rússia para suprir desde fuzis automáticos até modernos caças Sukhoi 27. Em 2006, Chávez foi reeleito uma segunda vez, alcançando 63% dos votos. Já nos primeiros meses de governo, Chávez continuou com o processo de nacionalização, dessa vez visando a maior empresa de telefonia do país e as empresas de produção de energia elétrica. Os gastos públicos aumentaram consideravelmente em 2005-2006, o que poderá elevar a inflação. Em fevereiro de 2007, novamente o congresso venezuelano autorizou Chávez a governar por decreto, por um período de dezoito meses, dando a ele poderes ditatoriais.Chávez tem criado uma rede de apoio político a seus projetos no cenário internacional, unindo-se ao governo comunista de Cuba e apoiando abertamente Evo Morales, da Bolívia, em processos similares de nacionalização de atividades econômicas (os quais tem afetado diretamente o Brasil). Hitler fez o mesmo em sua época, formando o Eixo com a Itália fascista de Benito Mussolini e apoiando Francisco Franco durante a Guerra Civil Espanhola; ao mesmo tempo, retomou militarmente regiões alemãs retiradas da Alemanha pelo Tratado de Versalhes, causando graves crises políticas na Europa, que acabaram culminando na II Guerra Mundial. Chávez também tem criado tensões no cenário político, interferindo publicamente nas eleições presidenciais do Peru e oferecendo fornecimento de gás a preços reduzidos para populações carentes nos EUA (numa clara demonstração de desafio ao presidente norte-americano), apesar de não haver feito qualquer demanda por territórios pertencentes a países vizinhos.Hitler usou de meios legais para chegar ao poder e para obter o poder absoluto. Chávez fez o mesmo. A história mostra que quando poderes absolutos são concedidos ao dirigente de uma nação, surgem tensões e conflitos internos e externos. Irá a história se repetir, dessa vez na América Latina?

    7 de setembro de 2009

    Eleições e mídia, tudo a ver

    Manaus - O texto abaixo foi retirado do blog do Luís Nassif, que recebeu de um leitor, que pegou na Carta Capital

    Eleições e mídia, tudo a ver

    Gonzaga Belluzzo

    Eu estava na ante-sala de uma médica, em Salvador. Sábado, dia 29 de agosto. E apenas por essa contingência, dei-me de cara com uma chamada de primeira página - uma manchetinha - da revista Época, já antiga, de março deste ano de 2009: A moda de pegar rico - as prisões da dona da Daslu e dos diretores da Camargo Corrêa.

    Alguém já imaginou uma manchete diferente, e verdadeira como por exemplo, A moda de prender pobres? Ou A moda de prender negros? Não, mas aí não. A revolta é porque se prende rico. Rico, mesmo que cometendo crimes, não deveria ser preso.

    Lembro isso apenas para acentuar aquilo que poderíamos denominar de espírito de classe da maioria da imprensa brasileira. Ela não se acomoda - isso é preciso registrar. Não se acomoda na sua militância a favor de privilégios para os mais ricos. E não cansa de defender o seu projeto de Brasil sempre a favor dos privilegiados e a favor da volta das políticas neoliberais. Tenho dito com certa insistência que a imprensa brasileira tem partido, tem lado, tem programa para o País.

    E, como todos sabem, não é o partido do povo brasileiro. Ela não toma partido a favor de quaisquer projetos que beneficiem as maiorias, as multidões. Seus olhos estão permanentemente voltados para os privilegiados. Não trai o seu espírito de classe.

    Isso vem a propósito do esforço sobre-humano que a parcela dominante de nossa mídia vem fazendo recentemente para criar escândalos políticos. E essa pretensão, esse esforço não vem ao acaso. Não decorre de fatos jornalísticos que o justifiquem.
    Descobriram Sarney agora. Deu trabalho, uma trabalheira danada. A mídia brasileira não o conhecia após umas cinco décadas de presença dele na vida política do país. Só passou a conhecê-lo quando se fazia necessário conturbar a vida do presidente da República. O ódio da parcela dominante de nossa mídia por Lula é impressionante. Já que não era possível atacá-lo de frente, já que a popularidade e credibilidade dele são uma couraça, faça-se uma manobra de flanco de modo a atingi-lo. Assim, quem sabe, terminemos com a aliança do PMDB com o PT.

    Não, não se queira inocência na mídia brasileira. Ninguém pode aceitar que a mídia brasileira descobriu Sarney agora. Já o conhecia de sobra, de cor e salteado. Não houve furo jornalístico, grandes descobertas, nada disso. Tratava-se de cumprir uma tarefa política. Não se diga, porque impossível de provar, ter havido alguma articulação entre a oposição e parte da mídia para essa empreitada. Talvez a mídia tenha simplesmente cumprido o seu tradicional papel golpista.

    Houvesse a pretensão de melhorar o Senado, de coibir a confusão entre o público e o privado que ali ocorre, então as coisas não deviam se dirigir apenas ao político maranhense, mas à maior parte da instituição. Só de raspão chegou-se a outros senadores. Nisso, e me limito a apenas isso, o senador Sarney tem razão: foi atacado agora porque é aliado de Lula. Com isso, não se apagam os eventuais erros ou problemas de Sarney. Explica-se, no entanto, a natureza da empreitada da mídia.

    A mídia podia se debruçar com mais cuidado sobre a biografia dos acusadores. Se fizesse isso, se houvesse interesse nisso, seguramente encontraria coisas do arco da velha. Mas, nada disso. Não há fatos para a mídia. Há escolhas, há propósitos claros, tomadas de posição. Que ninguém se iluda quanto a isso.
    Do Sarney a Lina Vieira. Impressionante como a mídia não se respeita. E como pretende pautar uma oposição sem rumo. É inacreditável que possamos nós estarmos envolvidos num autêntico disse-me-disse quase novelesco, o país voltado para saber se houve ou não houve uma ida ao Palácio do Planalto. Não estamos diante de qualquer escândalo. Afinal, até a senhora Lina Vieira disse que, no seu hipotético encontro com Dilma, não houve qualquer pressão para arquivar qualquer processo da família Sarney - e esta seria a manchete correta do dia seguinte à ida dela ao Senado. Mas não foi, naturalmente.
    Querem, e apenas isso, tachar a ministra Dilma de mentirosa. Este é objetivo. Sabem que não a pegam em qualquer deslize. Sabem da integridade da ministra. É preciso colocar algum defeito nela. Não importa que tenham falsificado currículos policiais dela, vergonhosamente. Tudo isso é aceitável pela mídia. Os fins, para ela, justificam os meios.
    Será que a mídia vai atrás da notícia de que Alexandre Firmino de Melo Filho é marido de Lina? Será? Eu nem acredito. E será, ainda, que ele foi mesmo ministro interino de Integração Nacional de Fernando Henrique Cardoso, entre agosto de 1999 e julho de 2000? Era ele que cochichava aos ouvidos dela quando do depoimento no Senado? Se tudo isso for verdade, não fica tudo muito claro sobre o porquê de toda a movimentação política de dona Lina? Sei não, debaixo desse angu tem carne…
    Mas, há, ainda, a CPI da Petrobras que, como se imaginava, está quase morrendo de inanição. Os tucanos não se conformam, E nem a mídia. Como é que a empresa tornou-se uma das gigantes do petróleo no mundo, especialmente agora sob o governo Lula e sob a direção de um baiano, o economista José Sérgio Gabrielli de Azevedo? Nós, os tucanos, pensam eles, fizemos das tripas coração para privatizá-la e torná-la mais eficiente, e os petistas mostram eficiência e ainda por cima descobrem o pré-sal. É demais para os tucanos e para a mídia, que contracenou alegremente com a farra das privatizações do tucanato.
    Acompanho o ditado popular “jabuti não sobe em árvore”. A CPI da Petrobras não surge apenas como elemento voltado para conturbar o processo das eleições. Inegavelmente isso conta. Mas o principal são os interesses profundos em torno do pré-sal. Foi isso ser anunciado com mais clareza e especialmente anunciada a pretensão do governo de construir um novo marco regulatório para gerir essa gigantesca reserva de petróleo, e veio então a idéia da CPI, entusiasticamente abraçada pela nossa mídia. Não importa que não houvesse qualquer fato determinado. Importava era colocá-la em marcha.
    Curioso observar que a crise gestada pela mídia com a tríade Sarney-Lina-Petrobras, surge precisamente no mesmo período daquela que explodiu em 2005. Eleições e mídia, tudo a ver. Por tudo isso é que digo que a mídia constitui-se num partido. Nos últimos anos, ela tem se comportado como a pauteira da oposição, que decididamente anda perdida. A mídia sempre alerta a oposição, dá palavras-de-ordem, tenta corrigir rumos.
    De raspão, passo por Marina Silva. Ela sempre foi duramente atacada pela mídia enquanto estava no governo Lula. Sempre considerada um entrave ao desenvolvimento, ao progresso quando defendia e conseguia levar adiante suas políticas de desenvolvimento sustentável. De repente, os colunistas mais conservadores, as revistas mais reacionárias, passam a endeusá-la pelo simples fato de que ela saiu do PT. É a mídia e sua intervenção política. Marina, no entanto, para deixar claro, não tem nada com isso. Creio em suas intenções de intervenção política séria, fora do PT. Neste, teve uma excelente escola, que ela não nega.
    Por tudo isso, considero essencial a realização da I Conferência Nacional de Comunicação. Por tudo isso, tenho defendido com insistência a necessidade de uma nova Lei de Imprensa. Por tudo isso, em defesa da sociedade, tenho defendido que volte a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Por tudo isso, tenho dito que a democratização profunda da sociedade brasileira depende da democratização da mídia, de sua regulamentação, de seu controle social. Ela não pode continuar como um cavalo desembestado, sem qualquer compromisso com os fatos, sem qualquer compromisso com os interesses das maiorias no Brasil.