Belo Horizonte - Cidadãos de classe média consideram-se eminências pardas do conjunto social. É como se sua opinião fosse mais importante, suas necessidades mais prementes, suas aspirações mais elegantes. Nesse conjunto de mímicas, destaca-se à crítica ao sistema, ao Hip-Hop e à TV Globo. É muito fácil demonizar a Globo. É muito fácil demonizar o Hip-Hop. É muito fácil criticar o sistema, culpar o poder público pela degradação social das grandes cidades.
A classe média brasileira é caolha. Não enxerga os meninos nos sinais. Não apresenta idéias a seus representantes no Congresso. Não acredita que o grupo de homens sentados na calçada no pedaço de periferia que precisou entrar para facilitar o tráfego são apenas desempregados, não bandidos. Enquanto a média chafurda na reclamação pouco reflexiva sobre o papel do estado, os impostos e os juros - geralmente uma reprodução do discurso burguês -, a classe alta aplaca sua consicência com doações esporádicas a instituições de caridade que nunca visitam, com a adoção de crianças que nunca viram.
Por tudo isso é que Falcão: Meninos do Tráfico, dói de forma única em nossa alma pequena. Ao retratar o cotidiano de crianças em situação de risco social, assistindo assassinatos, roubando para alimentar-se, drogar-se e sobreviver mais um dia (quantos mais?), a TV Globo e a Central Única das Favelas nos espancam com imagens e depoimentos dolorosos. Nunca fomos tão insultados em nosso comodismo social. Fazer o quê, agora?